Para início de conversa... somos seres viventes... que precisamos de alimento para sobreviver e manter nossas funções vitais. Isto acontece com todos os seres vivos na dinâmica da vida.
Com exceção do Homem, todos os animais tem sua alimentação definida pelo Criador. Uns são herbívoros (sendo que alguns deles são frugíveros - só se alimentam de frutas, outros são nectívoros - só se alimentam de néctar e etc)... outros são carnívoros... outros são onívoros... e outros são detritívoros. Desta forma, sua alimentação é pré-estabelecida e não sofre alteração.
O Homem, único animal dotado de raciocínio, difere de todos os demais seres vivos pois tem a possibilidade de escolher seu tipo de alimentação de acordo com seus estilos de vida, filosofias, crenças, religiões e etc. Assim, alguns humanos escolhem, por livre e espontânea vontade, serem vegetarianos ou veganos, por exemplo. Associado a isso, temos as intolerâncias alimentares e doenças que nos obrigam a limitar e definir uma alimentação específica. Neste grupo temos os celíacos (intolerantes ao glutén), os diabéticos, os com intolerância à lactose e outros tantos.
Até então, só tratamos de hábitos alimentares inerentes à manutenção da vida. A Culinária e a Gastronomia entram em cena quando transformamos nosso ato vital, de comer para ssobreviver, em algo diferente e pensado... com misturas de ingredientes... busca pelo prazer... reflexos culturais... sociais... religiosos... geográficos... históricos... etc. Aqui, temos o início da interferência do Homem na Natureza e sua ação na transformação das matérias-primas buscando novas sensações.
Por muito tempo definiu-se a Culinária como o conjunto de receitas de uma localidade e a Gastronomia como o conjunto da culinária e das demais coisas que a cercam... como os métodos de preparo... os utensílios... as bebidas... etc.
Porém, estas definições já são ultrapassadas e novos pensadores e profissionais da área já as definem de outra maneira. Neste caso, do qual faço parte, a Culinária de uma localidade é o conjunto das suas técnicas de preparo, das matérias-primas regionais, das receitas criadas ao logo da história, dos utensílios utlizados, da forma de comer e de tudo mais que se insira neste contexto. Afinal, quem pensa numa Moqueca Baiana sem que tenha dendê... leite de coco... sem pimenta... sem que seja feita na panela de barro?
Mas e a Gastronomia? O termo surgiu na França, no século XVIII, durante o Iluminismo. Neste período, a mesa tornou-se um ambiente social na busca do prazer por meio da comida e chegou ao seu ápice, no início do século XIX pelas mãos de Antonin Carême. Carême foi o primeiro chef a se tornar celebridade, ficou conhecido como “Chef dos Reis e Rei dos Chefs” e é considerado o maior chef da história.
O que caracterizou o surgimento da Gastronomia foi, além da valorização do prazer pela comida, a crescente urbanização das cidades e a generalização do hábito de se comer em restaurantes. Assim, a Gastronomia surge a partir do momento em que se começa a pensar e discutir sobre o que se come. Neste processo, frequentadores dos restaurantes e críticos passam a avaliar a comida servida e os chefs a buscar sua constante melhoria e a perfeição de seus preparos a fim de agradar seus consumidores.
A Gastronomia é, portanto, uma ciência humana que se firma na discussão e na prática da interrelação do Homem (técnica) com a Natureza (matérias-primas), realizada em torno da culinária, com o objetivo de potencializar o prazer do comer e a busca incessante pela excelência das preparações.
Lembra daqueles conceitos antigos? Podemos, agora, ver como eles são superficiais e ultrapassados. Afinal, as identidades das cozinhas regionais de qualquer lugar já existiam e eram seguidas com suas receitas, seus métodos de cocção, seus utensílios e suas bebidas típicas muito antes do surgimento do termo Gastronomia.
Para exemplificar... um prato típico pode ser feito, por séculos, de uma determinada maneira... e não ser preparado de forma tecnicamente correta para a valorização e extração perfeita dos aromas, texturas e sabores de um produto. É aqui que a ciência da Gastronomia entra de forma a melhorar o resultado final, mantendo as características originais.
Finalizando... muitos consideram a Gastronomia como uma arte. Realmente, inúmeros pratos são plasticamente belíssimos... com toques de pura arte... mostrando a identidade e a alma de um chef da mesma forma que um pintor, escultor ou diretor de cinema mostra em suas obras. Porém, isto é apenas mais um dos quesitos daquela busca incansável pela perfeição.
Afinal... se é ciência... não é arte! Mas isto é um outro papo onde serão necessárias muitas garrafas de vinho.
Até a próxima!!!!
Muito bom que os conceitos tenham mudados e que a busca pela perfeição seja infinita.
ResponderExcluirParabéns p/ blog.
Sucesso e Paz.
Belo texto, com o requinte de quem sabe correlacionar os aspectos característicos do que se aborda com muito embasamento, e a perspicácia de trazer tudo isso que é em suma, uma das grandes confraternizações da humanidade.
ResponderExcluir